8 de outubro de 2009

A INVEJA





De todos os personagens mitológicos criados, existe um que realmente me intriga: a inveja. Dona inveja, até onde se sabe, percorre mundos e fundos com uma única missão: fazer mais e mais pessoas acreditarem na vil teoria de que ela tem o poder. E que poder! Com um leve toque da danada, o pobre contaminado já vira uma sanguessuga de primeira, saindo por aí tal qual um vampiro em busca de pescoço.

Podemos dizer que sua viagem missionária começou há muito tempo atrás, mais precisamente quando o tal do Poder começou a dar as caras. Pois bem, desde então, inveja e poder não se suportam, não é segredo pra ninguém. São bastante típicas essas guerrinhas mitológicas, mas mais comum do que elas é o seu resultado: os mortais é que sempre acabam pagando o pato.

E cá estamos nós, essa gentarada transitando por aí em posições desiguais. Uns com tantos, outros com poucos, enfim, o cenário perfeito para a nossa vilã agir. Porém, ciente de seu poder degradante (e da de nossa incapacidade de distingui-la da pura e simples admiração) a população iluminada resolveu fazer justiça com as próprias mãos: criou um contra-ataque para a pobrezinha. E tudo seria um triunfo se as armas não fossem assim tão...confusas. Pé de pimenta, amuleto de figa, olhinho grego, galho de arruda... Comé que é mesmo?

Aí vieram esses dias me oferecer o "colar do mau olhado" e quem olhou torto fui eu. Ok, tenho lá minhas superstições básicas, mas não consigo entender a vantagem de se andar com uma salada no pescoço. Já é absurdo pensar que eu perderia alguma conquista minha só porque “fulana não gostou”, mas mais absurdo ainda é pensar que uma pobre pimenta barraria o problema. Engraçadas também são as pessoas que jurampordeus (e adoram!) serem invejadas. Ué, penduricalhos no pescoço pra quê então?

É por isso que pra mim a inveja é quase um mito. Uma amiga imaginária, que só aparece pra quem quiser ver. Apesar de reconhecida como pecado capital, se você realmente não der bola, ela não faz nada. Nem a minha fama e quem dirá o meu Ibope. É só um termostato bobo que me avisa sempre que o melhor é me garantir sozinha. Porque uma coisa é acreditar no amuleto, outra bem diferente é botar fé em você mesma.

Autoria: Milena Gouvêa

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