3 de outubro de 2009

A VIDA NÃO PERDOA...


De minha janela avisto o maior hospital do sul do país, e lá, a vida se apresenta sem fricotes, sem glamour e sem encenações. É da minha janela, sem nenhum esforço, que vejo o ser humano na sua essência.

Vejo de tudo, e meu olhar bateu num casal atravessando a rua. Pude ver, apenas, que ele era deficiente, porque seu andar era inseguro e dependente. Mas não chegava a ter a dependência dos cegos. Ela, despachada, altiva, parecia alienada do rapaz que era meio que “puxado”. O que chamou minha atenção foi que ela caminhava um passo à frente, e não junto. Por isso que falei “puxado”. Notei o “pouco caso”, como se ela estivesse carregando uma mala de rodinhas. E fiquei observando aquela cena até que entraram no hospital.

Não sei por que, lembrei-me do dia em que vi alguém falando de asilo num canal de televisão. É, asilo: depósito de idosos mal-amados. De órfãos, mendigos, velhos e crianças abandonadas. Asilo pra mim é sinônimo de gente abandonada. Não estou pensando se é bom ou ruim, se é sujo ou limpo. Não quero saber da parte física da instituição; falo do sentimento de gratidão. E não estou falando de “Casa de Saúde”. Isso é outra coisa. É diferente de asilo.

O fato de difícil aceitação é o abandono. O sentimento de ingratidão é abominável; virar uma “tralha”, sentir-se inútil dói demais. Pode ter sido alguém de difícil convivência, ter se indisposto conosco por inúmeras vezes... Mas colocá-lo num “asilo”?

Impossível não ver tristeza no olhar de um velhinho de asilo. Pode não faltar nada, pode ser um luxo o tal do asilo, mas o sentimento de abandono está lá, e é crucial. Tenho, particularmente, muita pena de velhos: bato, direto, no olho sem brilho. E sou um termômetro para pressentir a “tal” hora. A constatação do “final” é terrível.

Jamais viveria em paz tendo uma atitude de desapego por quem, em alguma época da minha vida, me foi importante. Vejo, como obrigação, saldarmos o amor, os cuidados, o afeto que nos foi dispensado.

O mesmo acontece com os animais: envelhecem, deixam de ser úteis e são soltos nas estradas e nos parques; que se virem. Porém, como não dá para “largar” os humanos nas estradas e nos parques, os asilos estão aí pra isso... Muitos esquecem que a vida não é condescendente com nossos erros; mais tarde ela vem cobrar o tanto que fizemos. E teremos a cota-parte que merecemos.

Tais Luso de Carvalho

Um comentário:

  1. super interessante muito bem trabalhado amei essa visao social!!!

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