6 de maio de 2010

O MODO DE VIVER DE UMA BRUXA

Muitas vezes as pessoas perguntam: “Como eu viro bruxa?”, “Como eu faço para entrar na sua religião da bruxaria?”. E a essas pessoas é preciso explicar que a bruxaria é um pouco diferente das demais religiões. Para ingressar na bruxaria, você não precisa integrar um grupo, participar de liturgias que não compreende, nem se tornar “especialista” em feitiços decorados de livros... Tornar-se bruxa significa transformar sua maneira de viver e encarar o mundo.

Para aqueles que estão interessados na Wicca, há algumas coisas a considerar. É preciso compreender que ao tornar-ser bruxa ou bruxo sua vida mudará, mas não serão hábitos ou externalidades apenas, mudará toda a maneira pela qual você compreende a Vida e o Universo.

Em primeiro lugar, é preciso começar a sentir a Deusa e o Deus cultuados pelas bruxas, os Deuses Pagãos, como o que eles realmente representam: o Todo universal, a natureza em sua mais ampla concepção.

O Universo inteiro é o Corpo da Deusa, e o Deus se encontra nas energias que fazem esse Corpo se movimentar em ciclos de energia. Nossos Deuses não estão distantes da realidade material, eles não são puro espírito. Eles são Espírito e Matéria, unidos e completos, nenhum melhor, nem pior, nem superior, nem inferior ao outro. Por isso um pagão dá exatamente a mesma importância ao desenvolvimento do espírito e aos prazeres do corpo - seguindo a antiga filosofia de que nossa primeira obrigação com os Antigos Deuses é viver em alegria.

Comparando com outras religiões e suas pesadas obrigações e ameaças, castigos, punições e promessas, obtidas a custa da culpa e do medo, vocês podem perceber que ser pagão é bem divertido. Mas não se iludam: às vezes é muito difícil aprender a viver em felicidade - nós amamos nossos grilhões, nossas culpas e valorizamos nossas limitações porque temos medo de ser felizes. O primeiro trabalho de uma bruxa é o autoconhecimento e a obrigação de buscar sua liberdade pessoal e felicidade, mesmo que isso, muitas vezes, custe o comodismo e a tranqüilidade. A ignorância sobre si mesmo pode ser uma benção àqueles que desejam permanecer alienados, aos que preferem deuses que decidem por eles ou demônios que possam carregar as culpas por seus defeitos e covardia... A bruxaria não é uma religião para acomodados, nem para quem deseja ter pouco trabalho...

Como a Deusa é Tudo, ela é bem e mal, dor e prazer, vida e morte. Não cremos em um universo onde existe um jogo de mocinhos e bandidos, entre “forças do bem e do mal” ou “forças das trevas e da luz”, porque cremos que todas essas coisas somente existem do ponto de vista de um indivíduo. O que a lagarta chama de fim de mundo, você costuma chamar de borboleta... Eis aqui a melhor prova de que não acreditamos na existência de um ser como o demônio cristão, um ser que personifique o mal absoluto. Na concepção de universo de um pagão o diabo nada mais é do que uma figura de mitologia cristã, que não adotamos e na qual não cremos. É preciso ser cristão para acreditar no diabo e nós não somos cristãos.

Mas não se imagine que essa compreensão de que a fonte de tudo, bem e mal, e a própria Divindade, seja uma licença para comportamentos individuais que prejudiquem os outros. A ética de uma bruxa é talvez muito mais exigente que a ética religiosa, baseada em alguns mandamentos escritos, que implicam em castigos se transgredidos.

Para compreender a ética de uma bruxa, é preciso que conheçamos o conceito de Grande Teia. De um modo mito-poético, dizemos que a Deusa, como uma grande aranha, criou a teia do universo do fio formado a partir de seu próprio corpo, e cada ponta dessa Teia está presa em cada ser que existe. O que cada um de nós faz reverbera em toda a teia e nos traz, de forma inevitável, o retorno por nossas ações. Esse é o significado de nosso Conselho Wiccaniano: “Faça o que quiseres, se a ninguém prejudicares”, conjugado com a chamada Lei Tríplice: “Tudo o que você fizer será devolvido três vezes”. Se nossas ações forem tranqü uilas, a Teia nos devolverá harmonia; se formos agressores, a Teia nos devolverá o caos. Assim, a cada um cabe buscar o equilíbrio e este começa com o equilíbrio de si mesmo, o autoconhecimento que leva ao auto-aperfeiçoamento. A maior parte do treinamento de um aspirante a sacerdotisa ou sacerdote na Wicca, se refere a essa descoberta de si mesmo. A esse fim se referirão os feitiços dos novatos: compreender-se, buscar seu centro, ganhar maior equilíbrio e compreensão da natureza e dos demais seres nossos irmãos.

Eis ai outro traço distintivo da bruxaria e outras religiões: não cremos em um universo antropocentrado, ou seja, não acreditamos que no Corpo da Deusa a espécie humana ocupe qualquer lugar em especial. Cremos que, perante nossa Grande Mãe, uma pessoa tenha o mesmo valor de um animal selvagem, uma árvore, uma ameba ou uma estrela. Isso nos irmana, e reduz a inexplicável soberba do ser humano, que, ao acreditar-se “mais perto de deus” que os demais animais e seres, os mata, destrói e tortura, sempre em nome dessa suposta subserviência justificada pelas religiões dominantes.

Por esses simples exemplos, você já deve ter percebido que se tornar uma bruxa ou bruxo significa muito mais que decorar feitiços, usar certo tipo de vestimenta ritualística ou adereços, comprar um caldeirão ou uma vassoura... Ser bruxa significa mudar a você mesmo e o mundo a sua volta, para um equilíbrio e consciência maiores, rumo à liberdade e alegria. Ser bruxa é ser uma moldadora, transformando a vida por magia e sendo co-criadora da realidade com os Deuses.

Colaboradora: Mavesper
GURUWEB

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