29 de junho de 2009

O QUE MUDA QUANDO A GENTE CASA


Olhar as roupas do marido por um ângulo inusitado, virar expert em negociação do tempo a dois, amar de um jeito diferente do dos tempos de namoro... casada há pouco, Daniela Folloni abre sua casa e a das amigas para você. E revela do que depende o que...

-Dani, tem um monte de gente falando para eu não casar - me disse o Rodrigo oito meses depois de decidirmos trocar alianças. Estávamos em um barzinho e quase engasguei com o vinho.
Os estraga-prazeres...
- meus amigos casados - entregou.
O argumento era o seguinte: a vida de solteiro é muito boa e quando a gente vira marido e mulher muda tudo.
- Mas muda especificamente o que? - questionei. Afinal, mulher sempre quer fatos concretos!
- Ah... tudo! - Respondeu o Rô com todo o poder de síntese que só um homem tem.
- E você, o que pensa disso? - Insisti, já com taquicardia.
- Quero casar do mesmo jeito.

Ufa! Amava o Rodrigo, não via a hora de casar com ele, mas... era essencial que ele desejasse o mesmo. Obrigar um homem a subir ao altar não combina comigo. Sou a favor do livre-arbítrio! Confesso que, lá no fundinho, tinha medo das tais crises dos sete meses, sete anos e outras tantas que dizem ser inevitáveis em qualquer relacionamento. Estaríamos prestes a dar um passo em falso rumo à promessa "Felizes para sempre"? Seria melhor não mexer no namoro que ia muito bem, obrigada? Resolvemos pagar para ver.

"Está marcado!"

Minha vida nunca mais foi a mesma desde que anunciamos data, hora e local do casamento, um ano antes da festa. Expectativa, vestido, nervosismo, bem-casados, emoção, presentes... Ser noiva é o máximo. O mundo passa a sorrir para você, e vice-versa. Nunca fui tão paparicada. Nunca vi tanto dinheiro saindo da conta também. A diferença é que gastei mais do que devia sem aquela culpa, apoiada no álibi de que o grande dia acontece só uma vez na vida. Eis que ele chegou: 15 de outubro de 2005. E tudo o que foi planejado se materializou. Da decoração clean do salão à música do coral. Da entrada de braço dado com meu pai ao corte do bolo de três andares.

Do abraço dos padrinhos no altar à noite de núpcias. Deu aquele frio na barriga, a boca secou, o coração não parou de acelerar... E, em questão de horas, ganhei um nome a mais, endereço diferente, e passei a preencher qualquer ficha marcando um X no campo "casada". Engraçado que, até acabar a lua-de-mel, eu continuava me sentindo apenas namorada do Rodrigo. Por mais que aquela aliança linda brilhasse na mão esquerda, me peguei várias vezes me referindo a ele como "o meu namor... marido". No entanto, bastaram algumas noites sob o nosso teto (comprado em suaves prestações) para tirar a carteirinha do clube das casadas. Você vai entender por que já, já.

O que é meu é nosso

E não estou falando apenas de dinheiro. Meu tempo livre virou dos dois. Assim como o dele. A causa é justa: como o trabalho ocupa 80% do nosso dia, queremos ficar juntos nos míseros 20%. "Sozinha só dá para ir ao banheiro e ao cabeleireiro", brinca minha madrinha Adri, também recém-casada. A Ana Cândida me contou que, desde que pisou no altar, não vê a hora de largar o mouse e encontrar o Sérgio. "Antes, tanto importava encerrar o expediente às 7, 8 ou 9 da noite." Eu troquei as idas à academia para fazer squash com o Rô. Agora, nem sempre é fácil acordar horários e interesses. É, leitora, nada melhor que casar para entender o sentido da palavra negociar. Nós já acertamos: continuo pondo o papo em dia com as amigas no restaurante japonês; em contrapartida, o Rô tem passe livre para ir com os dele à happy hour.

Para alugar um DVD que o Fernando se recusa a assistir, a Adri foi rápida no controle remoto: "Vi O Segredo de Brokeback Montain enquanto o Fê visitava um amigo". Mas nem sempre os acordos a dois são simples assim. Teve marido de amiga minha que já reclamou por passarem mais tempo com a família dela do que com a dele. Essa equação, convenhamos, é delicada e exige monitoração constante. Já a Ana Claudia reclama da dificuldade de sintonizar os ritmos de vida. "Tem noite em que quero pensar na vida, mas ele está a fim de sair para a balada. Ou chego louca para contar meu dia, e o encontro com vontade de ver tevê e dormir. E temos de respeitar a individualidade de cada um, concorda?"

Lar, doce lar

A expectativa de fazer a vida a dois dar certo é enorme para qualquer mulher. E sabe qual foi o conselho da minha mãe, que vive com meu pai há mais de 30 anos, quando perguntei o seu segredo? - Quer que eu seja sincera? Quando a mulher trabalha fora, 50% da felicidade de um casal está em contratar uma boa empregada. Caímos na risada, mas, assim que entrei no maravilhoso mundo das tarefas domésticas, a teoria dela passou a fazer sentido. Ao pisar nesse território, a gente passa por experiências inéditas, como ver aquela camisa que deixa o seu amor lindo por outro ângulo: o do cesto de roupa suja. No começo, é uma delícia brincar de casinha.

Comprei dezenas de jogos americanos para combinar cores diferentes a cada dia da semana. O Rô se sentia o próprio chef preparando baked potatoes. Mas até o copo de design mais incrível perde o luxo depois de ir tantas vezes para dentro da pia. Cinco meses depois, toda aquela festa de novas atribuições virou obrigação. Meu lindo foi o primeiro a pedir água. Disse que não agüentava mais chegar em casa e ter de pensar comigo no que cozinhar depois das 10 da noite. Notei que meu caso era mais grave ainda quando me peguei com raiva de tirar o lixo do banheiro e percebi que havia assumido uma lista de trabalhos caseiros muito maior que a dele.

A explicação você conhece: está no DNA feminino organizar o ninho e na genética masculina deixar por nossa conta. "Nunca se esperou que um homem cuidasse da casa", me falou o psicoterapeuta Sócrates Nolasco, autor de O Primeiro Sexo e Outras Mentiras sobre o Segundo (Best Seller). Ou seja, não adiantaria eu aguardar que o Rô tivesse um surto de "rei do lar". A solução? Comunicação. Sim, menina, o diálogo é um dos melhores exercícios do casamento. Sabe o que descobri? Que o Rodrigo nem havia reparado que eu estava ficando sobrecarregada. Portanto, mesmo que eu fizesse cara feia, nunca adivinharia o motivo do meu mau humor. Ele me prometeu ficar atento e hoje nos revezamos bem nas tarefas. Sendo que boa parte delas transferimos para a Emilia, seguindo o conselho da minha mãe.

Entre quatro paredes

Casar é ter passe livre para transar onde (e na hora em que) a gente bem entender, certo? Certíssimo. Significa que viramos máquinas de fazer amor? Nããão. As oportunidades aumentam, mas isso não quer dizer que está dada a largada para uma maratona erótica. Lá em casa concordamos que, às vezes, assistir a um episódio de Lost e dormir de conchinha vale por um orgasmo. E isso não tem nada a ver com falta de atração. Pelo contrário! Verdade que nem todo mundo ajusta facilmente os ponteiros do desejo. Diversas recém-casadas reclamam de desinteresse do marido, como constatei numa enquete com leitoras de todo o Brasil.

Helena, de 27 anos, sente falta de preliminares intensas: "As carícias e o esquenta antes da relação não acontecem com a naturalidade e empolgação do namoro". Giovana ficou desapontada ao descobrir que o marido guardava revistas PLAYBOY no banheiro: "Achei que, depois de casar, ele passaria a se satisfazer só comigo". Já Fernanda, de aliança na mão esquerda há dez meses, assume que também teve queda na disposição: "É duro manter aquele fogo do começo quando os dois trabalham fora, chegam em casa acabados e ainda têm que conversar sobre as contas". Se o cansaço é uma cilada a driblar para não minar o desejo, existe outra, armada pela intimidade:

"Passar a viver como irmãos que usam o banheiro de porta aberta e fazem tudo na frente um do outro", aponta a terapeuta conjugal Ana Maria Zampieri, autora de Erotismo, Sexualidade, Casamento e Infidelidade (Ágora). "Isso afasta eroticamente um do outro." Mensagem captada! Essa mesma intimidade deixa de ser vilã quando é canalizada para turbinar o prazer, como conta minha amiga Mari: "Ficamos mais desinibidos e nossa performance melhorou". A constatação dela faz sentido. "Um bom desempenho na cama tem a ver com conhecimento", explica a educadora sexual Laura Müller. "Saber quais são as fantasias do seu amor, os pontos sensíveis... Quem aproveita a rotina para investigar o que excita o parceiro faz ótimo proveito do casamento."

Alguma coisa acontece no meu coração

Mês que vem completaremos mais um ano de casados. O tempo voou! Mas foi especial. Um está mais adaptado ao jeito de ser do outro. Nossa relação ganhou em maturidade, em profundidade. Me sinto como se estreasse um carro novo: faço cada manobra com cuidado para não provocar nenhum risquinho difícil de apagar. Cuido dele e ele de mim como se o relacionamento fosse sagrado. Até na hora das brigas há maior preocupação em não deixar mal-entendidos. Como conta outra amiga bem-casada, a Monique: "Antes, quando o Jörg e eu discutíamos, eu podia desligar o telefone e me trancar no quarto. Hoje é diferente. A gente faz questão de resolver direitinho cada discussão. Convivendo com ele, aprendi a ter o dobro de tolerância e a conversar mais".

O casamento traz uma sensação gostosa de tranqüilidade. E, está provado, faz bem até para a saúde! "Sentir-se amado favorece a auto-estima e aumenta a sensação de felicidade e bem-estar", fala a psicóloga expert em stress Ana Maria Rossi. "Tudo isso fortalece a imunidade", completa. Sem falar que senti na pele o que é andar dez casas rumo ao amor maduro. A terapeuta conjugal Ana Maria tem uma explicação para isso que eu adoro: "O amor não acaba com o tempo, apenas se transforma. Aquele químico, responsável pelo friozinho na barriga, diminui, mas o do tipo companheirismo aumenta". E só casando para sentir como é!
Fonte: Revista Nova

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