29 de junho de 2009

SE VOCÊ ENCHE DEMAIS A BOLA DELE VAI LEVAR GOL CONTRA

Sabia Que Fazer Tudo Para Agradar o Namorado É a Melhor Forma de Perdê-lo? A Boa Tática é Mergulhar Num Relacionamento, Mas Não Virar a Sombra do Outro



Era uma vez uma garota invisível

Não que tivesse desaparecido de verdade. Tânia continuava freqüentando as aulas de ioga, ia ao cabeleireiro para fazer escova, preparava um sushi maravilhoso, mas todos os que a haviam conhecido antes percebiam certa ausência. Sua personalidade parecia ter encolhido. A causa? O novo namorado, a quem as amigas detestavam. Afinal, desde que ela começara a se encontrar com Marcos, transformara-se na sua sombra e não tinha mais tempo para passar algumas horas "com as meninas". Precisava jogar tênis com o bem-amado. Um belo dia, surpresa: Marcos simplesmente deu o fora. "Não posso entender", não se cansava de repetir Tânia. "Eu fiz tudo certo." Nada de mais verdadeiro, exceto por um detalhe fundamental: ela tinha deixado de existir e caído no erro de muitas outras mulheres que, para manter um relacionamento, procuram alcançar o posto de namorada super-perfeita e acabam se anulando.

Em vez de continuar a ser a garota interessante e independente que Marcos havia conhecido, Tânia se tornara um pálido reflexo do que era, pensando ingenuamente estar fazendo o que ele mais queria. Ledo engano. Suas atitudes despertaram no namorado emoções ambíguas. "A certa altura, comecei a me sentir culpado", confessa Marcos. "Não tentei modificar a situação porque vi que não adiantava. Para Tânia, qualquer coisa que eu fizesse ou falasse estava certa, mesmo que me portasse como um idiota. Ela era bonita, eficiente e organizada, mas faltava aquele algo mais. É terrível dizer isso, mas perdi todo o interesse."

"Quem assume um papel, como se estivesse representando num palco, não leva em conta uma verdade básica: é a nossa personalidade e unicidade que atrai o outro e também faz com que nos sintamos atraídos", explica o psicólogo Bjorn Lindstrom. "A fragilidade humana se reflete em nossas imperfeições e são elas que cativam as pessoas." Além disso, as garotas que caem na armadilha do vale-tudo para agradar, acreditando que só assim serão amadas, seguem um estereótipo, mas se esquecem de que até os estereótipos mudam com o tempo, acompanhando novos padrões de comportamento.

Em geral, quando a relação acaba, as mulheres invisíveis logo culpam a si mesmas. É comum ouvir explicações como "sou muito carente e possessiva", "não devia ter me matriculado naquele curso" ou "engordei e deu nisso". Elas nunca responsabilizam o namorado. Segundo os psicólogos, portam-se assim porque "se acostumaram a estar do lado errado". Leva tempo convencê-las de que o bonitão pode ter contribuído para o fracasso. Afinal, há duas pessoas envolvidas num relacionamento. Se o cara for insensível ou sentimentalmente preguiçoso, é provável que esses defeitos pesem bem mais na hora do rompimento do que o fato de a garota ser um tanto carente.

Saia da sombra

O equilíbrio entre cumplicidade e autonomia é que torna a vida de um casal harmoniosa. Autonomia, nesse caso, não significa fechar-se como uma ostra, manter segredos ou evitar a intimidade emocional. Significa permitir que cada um se manifeste como entidade livre, independente. Sejam quais forem os mitos em que você foi condicionada a acreditar, hoje é raro o homem que decide reprimir a personalidade da namorada, ignorar seus interesses, por estar centrado exclusivamente em si próprio. E, se encontrar um sujeito desses, fique bem longe dele. Há um consenso entre os especialistas. Atualmente, como nunca ocorreu antes, os jovens procuram uma companheira no verdadeiro sentido da palavra: uma mulher que divida as despesas, seja amiga na hora que tiverem de tomar decisões e crie uma união baseada no apoio mútuo.

Para esses homens, é mais importante sair com uma garota que curte uma conversa bem-humorada e um bom chope do que se amarrar numa bajuladora dos amigos dele. É o "toma lá, dá cá" que torna os relacionamentos interessantes e estimula o crescimento das pessoas. Alguém que sempre reprime seus desejos e necessidades e gasta todas as suas fichas com o amado acaba sendo um fardo e não um suporte. O namorado da "abnegada" recebe a mensagem inconsciente de que vai responder por tudo o que diz respeito à vida dela - e ninguém sensato quer se responsabilizar por outro adulto. É um enorme peso. Acende-se o sinal de alerta e esse tipo de atenção passa a ser sufocante.

Bjorn Lindstrom acrescenta: "As mulheres imaginam que o sexo masculino exige muito mais delas do que ocorre na realidade. Isso também é válido em relação à aparência física. A maioria dos homens prefere ter ao lado uma garota feliz e realizada a namorar uma imitação de top model que consegue se enfiar numa calça tamanho 36. E mais: eles não dão a mínima se a raiz de seu cabelo ficar um pouco mais escura do que o resto dos fios". Renato, de 34 anos, concorda: "Ouço a minha namorada dar conselhos complicados às irmãs a respeito de relacionamentos. A verdade é muito mais simples.

Para fazer um homem feliz, prepare de vez em quando um jantar caprichado (não precisa ser fantástico), aceite a paixão dele por futebol na tevê (não é necessário assistir junto às reprises e bater palmas a cada gol), seja um tantinho gentil com os amigos do moço e encare o sexo como uma possibilidade realmente animadora. Se o cara estiver a fim de você, ele será bem mais tolerante do que imagina". Alexandre, de 31 anos, vai mais fundo: "Acho melhor me ligar a uma mulher que se conheça, goste de si mesma e não tenha medo de expressar seus pontos de vista. As que tentam me agradar o tempo todo não são sinceras. Minha garota deve ser forte o suficiente para reclamar quando eu mereço. Ela não é um capacho, é um ser humano real".

Jogue aberto

"Raul, meu namorado, costumava sair com os amigos uma vez por mês e eles sempre acabavam a noite assistindo a um show pornô", conta Carol, de 29 anos. "Apesar de detestar a situação, tinha medo de me queixar e parecer ciumenta e possessiva. Uma noite, durante uma discussão, pus tudo em pratos limpos. O Raul caiu de costas ao descobrir minha mágoa e ficou ainda mais surpreso com o fato de eu ter me mantido calada. Confessou que ele mesmo achava o espetáculo meio grosseiro e que, da próxima vez, sugeriria à turma esquecer o show e continuar no barzinho. Aliás, só um dos amigos insistia em ir à boate, os outros agiam por inércia." Resumo da ópera: Carol aprendeu a ser mais franca. Afinal, ter uma ponta de ciúme é natural.

Com Sílvia, de 25 anos, foi diferente. Ela tinha um noivo que realmente estava a fim de se amarrar num clone da mãe. "Era tão ingênua quando conheci Daniel...", confessa. "Adorava ler todos aqueles livros que dão a receita do que os homens querem das mulheres - um bocado de espaço, tempo para sair com a turma, nada de ciúme, nada de cobranças. Eu seguia ao pé da letra o figurino." Uma temporada na casa de uma prima casada tirou a venda dos olhos de Sílvia. "Observei como ela e o marido se portavam e concluí que havia igualdade. O Pedro cozinhava e cuidava da louça. A Leila pilotava a máquina de lavar e o aspirador de pó. Eles eram cúmplices e totalmente apaixonados. Então, caiu a ficha: o que estava fazendo da minha vida?" Ao voltar para casa, Sílvia tentou virar a mesa. Tarde demais... Daniel nem queria ouvir falar de abrir mão de seus "direitos adquiridos". Algumas semanas (e brigas) depois, romperam. "Uma pena, mas eu não ia me matar tentando ser uma dona-de-casa-modelo."

Não banque a boazinha

O mito da mulher perfeita é resultado de séculos de condicionamento, todas nós sabemos disso. Muitas meninas foram criadas com a noção de que só poderiam ser amadas se se tornassem "boas garotas" e "mulheres do lar". Traduzindo: seres subservientes e passivos, que negam os próprios sentimentos. Segundo os psicólogos, embora a sociedade tenha passado por mudanças radicais, ainda somos mais pressionadas que os rapazes a nos conformar com certos padrões de comportamento.

Os especialistas citam outra armadilha que sustenta a fachada perfeccionista. Trata-se da insegurança feminina. Se uma mulher não se dá valor, vai chegar ao extremo de querer apenas agradar, pois não admite a possibilidade de ganhar afeto e aprovação por seus méritos - caso faça tudo direitinho, aí, sim, não será abandonada. Essa atitude é auto-destrutiva. Enquanto a relação durar, a namorada-sombra acreditará ser amada por suas ações e nunca por ser a pessoa que é. Se houver um rompimento, atribuirá o fracasso a si mesma. Instala-se, assim, um círculo vicioso.

Vinicius de Moraes que nos perdoe: a mulher em busca do amor pra valer não quer mais se comportar como uma sofredora, precisa traçar o seu caminho e apagar do pensamento o verso "ser só minha até morrer". Sim, cumplicidade é fundamental e gera alegria de viver. Por isso, encha de carinho seu companheiro, desde que haja a recíproca. Dê a você (e a ele) espaço para errar, já que todos temos defeitos. Acima de tudo, nunca esqueça quem você é, o que você merece... Amar alguém não é a mesma coisa que se perder nesse alguém.

Há alguém aí?

Se você responder afirmativamente a três ou mais destas questões, mau sinal. Sua tendência a se anular para inflar o ego do namorado vai torná-la uma séria candidata ao Prêmio Amélia, Mulher de Verdade. Acorde, garota. Caia na real do amor.

1. Você capricha no visual sempre que ele está por perto?

2. Você trata com açúcar e com afeto todos os amigos dele?

3. É você que compra os presentes para a família de seu namorado?

4. Nos fins de semana, ele tem sinal verde para escolher o programa?

5. Seu gato é o rei do controle remoto?

6. Você malha na academia unicamente para agradá-lo?

7. Você prepara os pratos de que ele mais gosta, abrindo mão de seus preferidos?

8. Você aboliu o ciúme para evitar que o barco balance?

9. Você se dedica a uma sessão de carinhos eróticos, mesmo quando gostaria de ver tevê?

10. Seu maior medo é que ele se apaixone por uma garota mais bonita, mais divertida, mais inteligente que você?

Fonte: Revista Nova

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